terça-feira, 12 de março de 2019

Texto da Danielle

Prezados amigos, boa tarde!
Tomo a liberdade de publicar no nosso blog o texto feito e lido pela Danielle, filha do nosso querido e saudoso Cel. Av. Cambeses, falecido no mês passado, por ocasião da missa realizada na Capela do HCA. 
O texto muito me sensibilizou e, confesso, veio lágimas nos meu olhos criando um vazio dentro do meu peito.
Que reconhecimento de amor e carinho pelo pai que se ausentou dela!
Sei que, onde quer que ele esteja, estará ouvindo permanente o eco da voz carinhosa de sua filha lendo o texto.
Como ele deve estar orgulhoso.
Feliz o pai que recebe estes reconhecimentos dos seus filhos.
Este texto está sendo publicado com o consentimento da Danielle.
Taveiros

Segue o texto:

"Nunca me imaginei escrevendo sobre meu pai na condição de saudosismo. Por mais que saibamos que essa é a ordem natural da vida, os pais são heróis e como tal não imaginamos que heróis também cumprem sua missão na terra. A grande maioria dos presentes conheceu bem o Cambeses amigo e profissional, mas acho que muitos não conheceram com profundidade o seu lado pai, e é aí que eu gostaria de contar um pouquinho para vocês. Peço perdão, pois não herdei o dom da palavra que ele tinha.

Quando criança, meu pai passava muito tempo viajando. Voltava para casa com seu macacão de voo (que ainda guardo na lembrança o cheiro), me pagava no colo e me abraçava. Trazia para a família um caminhão de presentes e queria dar tudo de uma vez só (minha mãe ficava doida). Nos levava com frequência ao Tivoli Park, à praia, ao Zoológico, à Quinta da Boa Vista e ao clube da Aeronáutica e só íamos embora quando eu e meu irmão não aguentávamos mais brincar (e éramos crianças com MUITA energia). Eu era até então a “titinha do papai”. Achava ele o máximo e o homem mais forte do mundo. Era o maior símbolo de proteção pra mim. Brincalhão, adorava me fazer ciúmes e sempre alcançava seu objetivo com louvor. Ficava furiosa! De tanto falar que ia viajar bonitão, uma vez chegou ao destino e ao abrir a mala, constatou que tinha levado apenas roupas de ficar em casa. A figurinha aqui tinha feito a troca do conteúdo quando todos já tinham ido dormir. Foi a maior confusão! 

O tempo passou e comecei a não caber mais no colo dele. Comecei a querer sair para as festas, e ele sempre me levou e buscou em todas elas. Era um pai superprotetor. Tinha uma paciência que não via no pai das minhas amigas. Fui crescendo e comecei a sair sozinha, ele não precisava mais me levar, mas sempre pedia para mandar mensagem dizendo que tinha chegado... esse pedido permeou até seus últimos dias de vida: “para o papai ficar tranquilo”. 
Não era muito de fazer declarações, mas demonstrava seu amor através de atitudes. Se fazia presente em todos os momentos, vivia comprando as gostosuras preferidas de cada um de nós. Não podia me ver quieta que vinha puxar papo para tentar entender o que estava acontecendo. Era muito brincalhão e acordava de bom humor, querendo conversar logo cedo. Todos os dias de manhã, brincava com as minhas roupas quando saía para trabalhar: é festa junina? Vai pescar? Ué vai de pijama? E nas vezes que a insegurança batia e pensava em trocar, ele dizia: brincadeira filha, está bonita. 

Conforme foi envelhecendo, seu coração foi ficando mais mole e ele começou a demonstrar com palavras todo seu amor pela família. Eu te adoro minha filha, você é o meu amor, passaram a ser ouvidas com frequência. Deco meu filho, seu pai te ama. Minha mãe então, nem se fala, era declaração atrás de declaração, queria estar perto o tempo inteiro. Era muito grato por qualquer coisa que fazíamos por ele. Tudo, o tempo todo. Não só com a gente, mas com todos a sua volta. 
Meu boa noite diário sempre contemplou um beijo, mas desde que meu pai ficou doente, os beijos vieram seguidos de um eu te amo. Ele respondia que também me amava e em seguida agradecia por tudo que fazíamos por ele.

Tenho muito orgulho de ter tido um pai tão maravilhoso e ao lado da minha mãe, que também é brilhante, terem dado a mim e ao meu irmão princípios e valores sólidos, nos ensinado a respeitar o próximo, a amar os animais, não desistir dos nossos sonhos e a sermos pessoas gentis. Cresci com a certeza que independente do problema em nossas vidas, teríamos uns aos outros. 
Nunca fomos uma família de margarina, mas sempre nos amamos e apoiamos muito. 

Paizinho, estamos fortes, a saudade é imensa e machuca demais, mas enquanto respirar, você viverá dentro de mim. 
Espero que você tenha tanto orgulho de nós como temos de você! Fica tranquilo que cuidaremos da sua companheira, nossa amada mãe e ela da gente. 

Te amo muito meu meninos dos olhos azuis do céu de brigadeiro!

Obrigada por ter sido um excelente pai e ter deixado muito de você em mim. 

A gente se vê em breve. 
Muitos beijos da sua filha Danica"